
Aos 72 anos, Sebastião Salgado, indiscutivelmente um dos melhores fotógrafos vivos, me decepcionou com a frase: “A fotografia está acabando”.
Como fã de Salgado, senti-me na obrigação de refletir sobre sua frase e suas consequências e esclarecer algumas coisas acerca de suas últimas declarações, posto que até os grandes homens tropeçam.
Recebi de uma ex-aluna e grande entusiasta da fotografia uma matéria intitulada “Sebastião salgado prevê o fim da fotografia”. Todos concordamos que este não é um discurso muito original, na verdade, isto vem sendo dito desde que a fotografia surgiu, entretanto esta eterna moribunda transformou o mundo. A Fotografia deu origem ao cinema, à televisão, transformou o mundo da moda, da publicidade, se tornou a mais importante ferramenta de documentação e registro de eventos naturais e promovidos pela humanidade, transformou o mundo das artes promovendo a libertação da pintura em relação à realidade. A fotografia democratizou o sonho de congelar o tempo e fez possível infinitos avanços científicos. Esta ferramenta universal foi capaz de libertar, comover, destituir falsos líderes, condenar criminosos e foi capaz também de transformar crianças em tratamento contra doenças severas em super-heróis e para mim bastaria esta última para justificar sua eterna sobrevivência.
Eu poderia passar horas escrevendo sobre as mudanças que a fotografia trouxe e não seria capaz de dizer quais ainda ela irá trazer, mas tenho certeza que muitas virão. Entretanto, vale a pena lembrar um pequeno detalhe: A primeira fotografia data de 1826 e esta púbere arte ainda levará muito tempo para atingir sua maturidade.
Então por qual motivo algumas pessoas insistem em dizer que a fotografia está morrendo?
Eu gostaria de poder responder isso, mas não há uma única resposta. Penso que algumas pessoas repitam esta ideia como uma forma de ostracismo diante algumas decepções com a democratização da fotografia e é razoavelmente compreensível que fotógrafos e apaixonados por arte se sintam decepcionados com a quantidade de imagens produzidas atualmente e não são poucas, cerca de um trilhão de imagens são produzidas todos os anos, o que nos trás a sensação de que a democratização e banalização da imagem fez com que a fotografia se perdesse. Mas acreditem, em meio à imensa quantidade de lixo virtual produzido, crescem também o número de novos mestres da fotografia e é indiscutível que nomes como Max Rive – Holanda, Kilian Schönberger – Alemanha e Atif Saeed – Paquistão, por exemplo são futuros imortais dessa “morta arte”. Outra explicação para aqueles que acreditam na morte da fotografia talvez esteja na nostalgia daqueles que vivenciaram (e alguns que nem vivenciaram) os tempos da fotografia analógica, os mistérios e suspenses que antecediam uma revelação, o temor da imagem latente e a frieza no cálculo da exposição para não perder o filme. Essa saudade idealizada que presenciamos em muitos fotógrafos tidos como “da velha guarda” e que é plenamente justificável. Há ainda outra explicação, a de que aqueles que proclamam o fim da fotografia, jamais compraram um livro de fotografia, foram a uma exposição de fotografia, ou seja, não são consumidores reais da fotografia e a única coisa que vivem desde universo muitas vezes é o que se apresenta de forma quase impositiva em seus aparelhos telefônicos e telas de computadores.
Seja qual for o motivo para alguém acreditar que a fotografia morreu ou está morrendo, é triste que alguém pense assim, mas a fotografia em si não se abalará com isso, posto que sempre haverão otimistas trabalhando pela fotografia e aqueles que estão tão ocupados produzindo que não possuem tempo para perder com esta discussão.